A beleza de Jesus: um apocalipse individual

A beleza de Jesus: um apocalipse individual

Em nossa jornada espiritual existem alguns momentos que são muito decisivos. Acredito que o maior deles é quando conseguimos responder à pergunta de Jesus feita a seus discípulos na região de Cesareia de Filipe:

“E vós, quem dizeis que eu sou? (MT 16:15)”,

e essa pergunta muda toda a vida.

Já se transcorreram mais de vinte séculos e tal questão passou pela formulação dos concílios, está presente nos dogmas cristológicos, nas investigações históricas, na vida de ateus e exegetas, crentes e não crentes, e nunca terminou. Qualquer pessoa que se aproxima da figura de Jesus com honestidade e interesse, encontra-se diante desta pergunta “quem é Jesus?” e, a resposta só pode ser pessoal.

Se nossa imagem de Jesus é pobre e parcial, nossa fé será pobre e parcial; se está distorcida, viveremos uma vida cristã distorcida. Não basta crer em qualquer Jesus, precisamos saber qual o verdadeiro Jesus anunciado pelas escrituras. E para que isso aconteça de fato não podemos nos apoiar num Cristo “só” de doutrina produzido por nossa capacidade intelectual, ou pelo Jesus objeto de culto e programações litúrgicas de final de semana, ou vê-lo somente como um profeta de Nazaré, pregador itinerante, defensor de boas causas que fez muitas coisas importantes. Necessitamos urgentemente de um encontro pessoal e íntimo com o Jesus Cristo vivo, ressurreto, que só nos é dado por uma revelação (Apókalypsis), não por vontade de carne e sangue, mas pela vontade do pai que está no céu! (Mt 16:17).

Cristo revelado, beleza desvendada

“A palavra era Deus. A palavra se tornou carne.”

Nossa vida precisa ser tomada de uma cristologia cara e alta como foi a de João, o discípulo amado. Para ele, a história de Jesus é a história de como Deus se vestiu de carne, tornou-se humano e se fez parte da criação com o fim de nos dar acesso ao Pai novamente.

Na história do Gênesis, o Deus que fez o mundo como um templo para sua habitação desejou também estabelecer sua tenda entre os israelitas; primeiro no tabernáculo no deserto e depois no templo em Jerusalém. O templo era o sinal, o foco e o meio da presença de Deus entre o seu povo, presença esta perigosamente santa e ao mesmo tempo maravilhosa e sublime.

Sacrifícios eram regulares, dia após dia e hora após hora, bem como as festas ordenadas por Deus, com seu auge na Páscoa, faziam do templo um lugar cheio de vida e significado. Em 587 a.c., a destruição do templo levada a cabo pelos babilônicos havia sido o pior desastre possível, indicando que o Deus de Israel abandonou sua casa, deixando o templo e a cidade ao destino que há tempos mereceriam. Mas esse não podia ser o fim da história, Deus prometeu retornar e redimir o seu povo, e assim o fez em Jesus. Quando o verbo de Deus se tornou carne, ele também armou entre nós a sua “skene “, sua “tenda”, dando a ideia de que Deus se “mudou para cá” novamente, e a mesma presença que se manifestou no templo chamada de shekinah “(Presença que tabernacula e habita)”, agora está novamente com seu povo, na pessoa de Cristo.

Em especial, Jesus se dirige vez após vez a Jerusalém, principalmente para participar das grandes festas. Contudo, é como se em cada ocasião ele se sobrepusesse as festas.
Na festa dos tabernáculos, Jesus se declara provedor da água viva (João 7); na festa da dedicação, o verdadeiro rei-pastor; já na última Páscoa, se declara conquistador do mundo e seu governante, assim como o próprio YHWH ao destruir o faraó do Egito e libertar, de uma vez por todas o seu povo.
João descreve Jesus não apenas como templo em pessoa, mas como aquele em que tudo que aconteceria no templo é cumprido, completado e realizado. É por isso que nos incomparáveis discursos dos capítulos 13-17 do evangelho de João, gerações de leitores tiveram a sensação de entrar em um templo real, lugar em que Jesus promete como Deus prometeu nas escrituras antigas estar com seu povo. O discurso de despedida de Jesus culmina com Sua oração do capítulo 17, chamada, não sem motivo, de “oração sacerdotal”.

E, agora, todas as funções do templo: festas, presença, sacerdócio e sacrifício convergem em uma só pessoa, Jesus! Essa é a essência da “alta cristologia” de João. Através de cristo, Deus se revela novamente a seu povo, desejando encontrar “aqueles adoradores que o adoram em espírito e em verdade !” (João 4:23-24)

Beleza acessada, vida transformada

 É isto que os evangelhos, especialmente o de João nos oferecem: a habitação de Deus em Jesus, o messias, e por meio dele, sua habitação no Espírito.

 O próprio Jesus disse:

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida, e ninguém vai ao pai se não for por mim” (João 14:6).

A presença de Deus agora não precisa ser acessada por meio de um templo, celebrada somente em uma festa, mediada por um sacerdote. O próprio Jesus é o novo templo. Agora, um templo ambulante, que nos dá acesso a Deus novamente, se tornando um “apocalipse individual”: o lugar do encontro entre céus e terra, em quem as pessoas podem encontrar renovação e restauração como povo de Deus. Porém, esse não é o fim da história. Se Jesus é o verdadeiro templo, seus seguidores também o são. Umas das promessas mais impressionantes do evangelho de João diz a respeito da vinda do Espírito. Jesus lança um convite como o de Isaías 55:” se alguém tiver sede, deve vir a mim e beber!”. E ele explica: “todo aquele que crer em mim, como diz as escrituras, do seu interior fluirão rios de água viva!” (João 7:37-38). Muitos concordariam que a referência Bíblica está conectada a Ezequiel 47:1-12, em que após um longo relato da reconstrução do templo, o profeta descreve o rio da água da vida que flui para fora do templo e cai no Mar Morto, tornando-o fresco. Jesus está prometendo que seus seguidores que recorrem a ele irão saciar sua sede tornando-se portadores da vida e capazes de matar a sede de todos. Isso é certamente o que ele pretende afirmar em João 20:21, quando sopra o Espírito em seus discípulos e ordena que sejam para o mundo o que Ele foi pra Israel.

Aqueles que creem em Jesus tornam-se “pequenos templos”, lugares onde o Deus único habita e transforma! Precisamos nos voltar a Jesus. Ele é o que de melhor temos na igreja. Não podemos crer num Cristo sem carne pois necessitamos de um contato vivo e íntimo com Sua pessoa. Todo o resto é secundário! Quando isso de fato acontecer, gastaremos a nossa vida para anunciar a boa nova, com a sensação de que somos amigos de Pedro, Thiago e João, experimentando o poder da ressurreição e vivendo uma vida como de quem saltou das páginas do novo testamento!

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