Adoração e a Edificação da Igreja

Adoração e a Edificação da Igreja

Muito provavelmente ao se deparar com um título como este a primeira coisa que pensamos é: “Nos tornamos semelhantes àquilo que adoramos” (Sl 115). E quando fazemos isso em comunidade estamos revelando a doxa de Deus sobre o povo. E realmente temos isso por entendimento e consequência da adoração a Deus, porém, gostaria de compartilhar de uma maneira um pouco mais profunda essa verdade tão essencial para nós, como corpo de Cristo.

Primeiramente queria explanar de maneira bem singela que acredito que Deus tem ressignificado o nosso entendimento acerca da adoração. Não mais acreditamos que adoração é apenas o momento do louvor do culto, mas agora também entendemos que o momento da oferta, como também a pregação do evangelho, e até mesmo os serviços realizados, baseados num amor sacrifical fazem parte do culto e adoração ao Senhor. E é sobre isso que gostaria de compartilhar através deste artigo: como os nossos serviços são os meios pelo qual o Senhor nos ensina, e redireciona os desejos e anseios do nosso coração, não somente como indivíduo, mas também como corpo.

Talvez seja novidade para você, ou talvez não. Mas quando estou falando de serviço, me refiro à Liturgia. Liturgia não é a nomenclatura que damos sobre o jeito de uma Igreja realizar o seu culto dominical, e não é uma ordem de acontecimentos que se sucedem como: começamos com a abertura, depois passamos para o louvor, depois para o ofertório, e assim sucessivamente, até a finalização da noite.

Quando olhamos atentamente para Bíblia percebemos que LEITOURGIA (λειτουργια) diz respeito ao serviço ou ministério de sacerdotes relacionados com orações e sacrifícios a Deus. Que incrível! Isso tem tudo a ver conosco já que fomos feitos REIS e SACERDOTES (Ap 1). Logo, não é sobre uma ordem de culto, mas sobre serviços realizados com um entendimento sacerdotal.

Gosto muito de usar o exemplo do autor de Hebreus quando ele usa a palavra Leitourgia para descrever o serviço sagrado realizado pelos sacerdotes no tabernáculo.

Vejamos:

“…Dizendo: Este é o sangue do testamento que Deus vos tem mandado. E semelhantemente aspergiu com sangue o tabernáculo e todos os vasos do serviço sagrado…” Hebreus 9:20,21

Com essa passagem, entendemos que todos os serviços realizados pelos sacerdotes no antigo testamento eram tidos como atos litúrgicos diante de Deus.

Legal, mas o que tem a ver os rituais do antigo testamento com adoração? E com a edificação da Igreja? Bom, a gente vai chegar lá.

Quando olhamos atentamente para as ordenanças que Deus deixou a Moisés, percebemos de imediato que eram simbolismos que apontavam para uma verdade futura, como o cordeiro oferecido era um apontamento para o sacrifício de Jesus, o candelabro para o Espírito e assim sucessivamente. No entanto, quando olhamos mais atentamente para esses ritos, nós percebemos que eram meios pelo qual o Senhor estava ensinando Israel sobre oráculos futuros. Em outras palavras, eram ferramentas pedagógicas para instruir o povo e recondicionar suas motivações e desejos do coração. Um exemplo prático: um homem que pecasse teria que primeiramente trazer um animal, sem mácula e perfeito; teria que colocar as suas mãos na cabeça do cordeiro representando a “transferência” do seu pecado e sua participação naquele rito mosaico e não somente isso, mas assistir até final o fim trágico daquele animalzinho. Através disso o Senhor estava mostrando que aquele animalzinho indefeso e sem culpa de algo, estava morrendo no lugar daquele sujeito por conta do erro dele. Logo, o Senhor estava conscientizando aquela pessoa sobre as consequências dos seus atos pecaminosos e fazendo rever sua conduta de vida à Luz das verdades de Javé.

Através de um ato de sacrificar um animal, Deus estava revelando o seu coração para um homem. Pronto, estamos começando a entender uma liturgia. Um serviço realizado que me ensina e instrui acerca das veredas e caminhos do Senhor permitindo que através desses ritos eu recondicione e alinhe os anseios do meu coração.

Mas você pode estar se perguntando: Onde isso se encaixa no nosso contexto atual? Legal. Estamos chegando lá. Vamos analisar as palavras do Apóstolo dos gentios acerca de Liturgia. Paulo aos Romanos no capítulo 15 verso 16 diz que a ministração do evangelho aos gentios era um ato Litúrgico a Deus. Em Filipenses 2:17 ele revela que o serviço prestado à profissão de fé dos filipenses consistia num ato litúrgico. Ou seja, um serviço a Deus. No versículo 25 do mesmo capítulo ele diz que o socorro prestado por Epafrodito diz respeito a uma Liturgia. Essas e muitas outras referências nos ensinam que tudo que eu faço por Cristo ou pelo seu corpo (quem serve o corpo serve o Cabeça) entende-se por Leitourgia.  Lembra o que falamos no começo? 

“Serviço ou ministério de sacerdotes relacionados com orações e sacrifícios a Deus”

Certo. Mas o que Liturgia tem a ver com adoração a Deus? Na verdade, tudo. Porque quando entendo que um serviço sacerdotal é um serviço a todo cristão logo eu entendo que tudo que faço em serviço ao senhor é um ato de adoração. O Fim da Liturgia (serviço a Deus) é adoração. Estamos ampliando a nossa compreensão de adoração a Deus. Talvez aquele versículo tão famoso faça mais sentido agora

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. ” (grifo do autor). 1 Coríntios 10:31

Fazer tudo para a glória de Deus nos aponta para entendermos que tudo quanto fazemos, fazemos baseados no nosso amor por Cristo. Nós como seus servos fazemos tudo em devoção e serviço pelo Rei, até mesmo o comer e beber.

Me perdoe por ser um pouco exaustivo na minha explicação. Mas, para compreendermos o macro precisamos ter o micro muito bem alinhado. Agora podemos finalizar falando de um ambiente de comunidade local tendo em consideração tudo que abordamos até agora.

Vamos fechar falando de oferta. Você já reparou do que por que o Senhor insiste tanto que a sua Igreja oferte? Por que ele deseja tanto que eu o sirva com meus recursos?  As ofertas são umas das ferramentas de Deus para nós ensinar o que um dia faremos em plenitude com todos os Santos na era vindoura. Para explicar melhor irei fazer uma breve ilustração. Pensa que o que fazemos hoje no momento da oferta se assemelha a um pai que quando o filho completar seus 18 anos ele irá ganhar um carro. E ao longo da adolescência dessa criança o pai constantemente o ensinava, pilotando naqueles carros de fliperama que tem cambio, pedal e acelerador. E o pai ensinava todas as regras de trânsito e os “macetes” da passagem das marchas e todas as leis de trânsito a esse filho. Quando o filho completar 18 anos talvez ele não saiba de maneira plena conduzir um veículo, mas eu tenho certeza de que todos os ensinamentos do seu Pai farão sentido e terão sido um ótimo professor, pois ele já sabe o que fazer, e quando fazer, e o porquê fazer com aquele veículo. Bom, você já deve ter entendido a moral da ilustração. O Pai é o próprio Cristo. O Carro é aquilo que faremos em plenitude quando Cristo vier (Nações ofertando os seus recursos ao Rei). E as instruções do Pai são os atos litúrgicos que ele deixou a nós (A prática da oferta). Quando eu entrego minha oferta hoje, eu estou aprendendo e precedendo o que um dia todos os povos da terra irão de fazer diante do Rei Jesus. Deus está me ensinando que ele é digno de receber os recursos que estão comigo e que na verdade pertencem a Ele. Pois bem, meu amigo, o culto dominical é uma reunião de atos litúrgicos de adoração ao Rei que temos o privilégio de fazer em comunidade o que um dia toda a terra irá fazer. No domingo nós servimos ao senhor através das nossas ofertas, dos nossos serviços, dos nossos corpos e tudo isso é adoração ao Senhor. É a maneira pelo qual ele tem instruído a sua noiva até o grande dia do seu Retorno para realizarmos de maneira plena.

Quando estamos todos juntos, unidos, servindo ao Senhor estamos realizando as práticas que estão precedendo o que um dia a Igreja madura irá realizar. Deus está ensinando sua igreja como ofertar, como servir com seus corpos em sacrifícios de louvor entre tantos outros ritos que realizamos em comunidade. Que esse texto possa ter penetrado seu entendimento e mudado a sua perspectiva acerca do serviço ao Rei Jesus.

1 Comentário

  • Edileusa Postado 30 de junho de 2021 22:50

    Muito bom , tremendo.

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