Doutrina e Devoção

Doutrina e Devoção

E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Mateus 22:37

Quantos de nós já não passamos (ou ainda estamos) pela fase da empolgação que espiritualiza tudo e acaba tornando as coisas mais emocionais do que elas são? Ou, por outro lado, a fase em que nos tornamos críticos ávidos aderindo à “doutrina dos reformodinhas”. Assistimos uma pregação do Paul Washer e já achamos que podemos sair por aí exortando todo mundo e pensando: “pronto, eu era o que faltava para o evangelho!”

Este que vos escreve, por mais que ainda esteja na flor da idade, já passou por essas fases e quero partilhar com vocês, leitores, as lições sobre doutrina e devoção que tenho aprendido, dia após dia trilhando a jornada na companhia de Jesus.

Doutrina e devoção são inseparáveis. E quando digo “ doutrina” me refiro Sã doutrina que Paulo exorta a Tito para que fale dela: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina.” Tito 2:1. A que o mesmo Apóstolo Paulo disse também a Timóteo: “Prega a Palavra, insiste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende e encoraja com toda paciência e sã doutrina.” 2 Timóteo 4:2. Doutrina essa na qual a igreja dos primeiros dias perseverava: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” Atos 2:42

Doutrina é o que é fundamental a respeito de Deus e do evangelho de Deus. São as bases, o que é inegociável. O lugar seguro chamado “Escrituras Sagradas” da qual não devemos nos apartar, nela devemos mergulhar, dedicar nossas vidas para ir mais fundo no conhecimento de Deus que ali está disponível. Deus nos deixou um livro! Você consegue imaginar que o Senhor inspirou e se revelou aos seus amigos para que escrevessem um livro em conjunto e é desejo dEle que nós, amigos de Deus o conheçamos, e também ao seu caráter e plano através do que está escrito?

O problema começa quando nosso coração se afasta do desejo que conhecer a Deus e se aproxima do desejo de ter informações sobre Deus. Perceba que o foco muda: Antes, ele estava no Senhor, e depois se encontra em “como posso me favorecer diante dos homens com as informações acerca de Deus que tenho adquirido?” A bíblia deixa de ser um meio para se encontrar com o Senhor e passa a ser um fim em si mesma.

Em João 5, ao confrontar os judeus, Jesus se opõe justamente a esse comportamento.

Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida. João 5:39,40

Quantos de nós podem estar diante das escrituras, de forma dedicada, constante e interessada, mas nunca nos achegarmos àquele de quem as Escrituras testificam. É por isso que eu disse que doutrina e devoção não podem ser dissociadas, pois não foram pensadas pelo Senhor para que fossem.

Quando temos doutrina sem devoção, tudo que adquirimos é material intelectual não aplicável. Não se aplica em mim, nem às pessoas ao meu redor. Não gera vida, mas sim orgulho, vaidade, soberba, sentimento de superioridade e criticismo. Por outro lado se cultivarmos uma devoção sem doutrina, na verdade temos uma pseudo devoção, pois estamos adorando um deus que nós mesmos criamos, um deus que montamos pedaço a pedaço a partir do senso comum, cultura popular e das coisas que gostamos. Um verdadeiro “deus feito por mão humanas”.

É maravilhoso quando um coração cheio de sã doutrina se encontra com o fogo da presença de Jesus e com o poder do Espírito Santo. Fumaça densa de adoração começa a ser produzida, nossos afetos, pensamentos, ações, reações, decisões até mesmo nosso corpo são envolvidos.  As narinas do Senhor recebem aroma suave de incenso puro subindo a partir da minha vida. 

Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. João 4:23

John Piper, um dos meus teólogos favoritos, em seu livro Em busca de Deus dá um exemplo sobre o que estamos falando que ficou gravado em mim e espero que também fique em você.

Adorar em espírito é o contrário de adorar de maneiras meramente externas. É o contrário do formalismo e do tradicionalismo vazios. Adorar em verdade é o contrário da adoração baseada em um entendimento inadequado de Deus. A adoração precisa ter coração e cabeça. Ela tem de envolver as emoções e o pensamento.

Verdade sem emoção produz ortodoxia morta e uma igreja cheia (ou pela metade) de admiradores artificiais (como pessoas que escrevem cartões de aniversário genéricos para vender). Por outro lado, emoção sem verdade produz agitação vazia e cultiva pessoas superficiais que rejeitam a disciplina do raciocínio exato. A adoração verdadeira porém, vem de pessoas com emoções profundas, grande amor e doutrina sadia. Afeições fortes por Deus, arraigadas na verdade, são ossos e medula da adoração bíblica.

Talvez possamos juntar todos esse elementos com essa figura: o combustível da adoração é a verdade de Deus, a fornalha da adoração é o espírito do ser humano e o calor gerado é -a afeição vital da reverência, contrição, confiança, gratidão e alegria. Há todavia algo faltando nessa figura. Temos combustível, fornalha e calor, mas não temos fogo. O combustível da verdade na fornalha do nosso espírito não produz automaticamente o calor da adoração. Precisa haver ignição e fogo. Isso é o Espírito Santo.”

Que possamos expor a verdade de Deus que tem sido cultivada no nosso interior ao fogo do Espírito Santo, à luz fulgurante que emana da face do Filho do homem e possamos com a doutrina correta e devoção profunda, adentrar pelo Espírito nas profundezas do coração de Deus.

Alessandro Matos, casado com Cristiane Matos, membro da igreja One São Paulo. Carrega um encargo de ensino, tendo como principal ênfase o retorno de Jesus, devoção e avivamento. Alessandro tem um Podcast, tem mentoria de fundamento escatológico e escreveu um e-book sobre a jornada daqueles que esperam a vinda do Messias.