Pastor ou precursor?
O nome parece difícil, mas posso te garantir que definir o que isso é não é a parte complexa, mas a práxis da definição, essa sim é o grande desafio. Basicamente, o que eu quero dizer com “eclesiologia escatológica” é a prática da vida da Igreja tendo como foco o Dia do Senhor, ou seja, todo o complexo de acontecimentos e eventos progressivos que envolvem a vinda de Jesus e o estabelecimento do seu Reino dando fim à essa era caída, iniciando a próxima. Podemos conciliar as duas coisas?
Na realidade, nunca foram dois assuntos segmentados. Sempre fizeram parte do mesmo “pacote” chamado Evangelho. O problema surge, ao meu ver, quando tentamos sistematizar os assuntos da bíblia no intuito de facilitar seu ensino e acabamos por fracionar seu conteúdo. Então criamos os “da escatologia”, os “da profecia”, os “do pastoreio”, os “do evangelismo”, delegando funções corporativas baseadas em aptidões individuais dificultando a integração orgânica do Corpo de Cristo, onde cada parte, mesmo em sua particularidade, serve o resto do corpo de forma integral.
Não estou aqui colocando em cheque a necessidade de organização estrutural da Igreja ou do tipo de ensino que lá é desempenhado, mas urge a necessidade de proclamarmos o Evangelho mais como a história que Deus está contando do que a apostila sequencial que Deus nos deu para decorarmos. E como toda boa história, Deus tem um final perfeito estabelecido para o seu plano.
Alguém já assistiu um daqueles filmes que acabam de repente? O começo é até legal, a história está se desenrolando bem, mas quando chega no final o filme fica sem desfecho, o roteiro abriu portas que não consegue fechar, não responde as perguntas que propôs e nem revela os mistérios que apresentou? Pois é, quando consideramos a mensagem do Evangelho à parte do plano que Deus tem para consumar essa era, estamos chamando Deus de um desses roteiristas meia boca de Hollywood e nos esquecendo de que Ele é o grande diretor, roteirista, produtor e protagonista de Gênesis 1:1.
No princípio criou Deus o céu e a terra. Gênesis 1:1
Nos esquecemos também que o filme não acabou e que ainda continua rodando e cada detalhe está sendo acompanhado muito de perto pelo Criador da história.
O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder Hebreus 1:3
Ora, se todas estas coisas são verdade, porque então apartar a esperança da consumação do plano do restante da história? Não existe razão plausível. É por isso que o ensino e a prática escatológica são parte fundamental da vida da Igreja, porque também são parte fundamental do Evangelho.
Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor! Como o amanhecer, a sua vinda é certa Oséias 6:3
Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus. Apocalipse 22:20
Preparando o caminho
Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas. Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados. Marcos 1:3,4
Apesar de cremos que haverá uma estrada literal que será construída em Israel durante o reinado de Jesus, quando a ordem de preparar o caminho (Is 40) aparece no texto de Marcos citado acima, não vemos João batista construindo nenhuma estrada, ele não tem nenhuma retroescavadeira da Judéia aplainando o caminho, endireitando as veredas ou aterrando os vales. O motivo disso é que preparar o caminho do Senhor também é preparar pessoas para recebê-lo.
Meus amigos, não quero ser reducionista, mas é basicamente isso que fazemos nas nossas igrejas. É por isso que nos reunimos, é por isso que discipulamos e somos discipulados, é por isso que evangelizamos, que enviamos missionários, que oramos pelos enfermos, que adoramos, que partimos o pão e tantas outras coisas que ainda falaremos neste texto. É por isso: estamos preparando pessoas para receber Jesus de volta, na ocasião do estabelecimento do seu Reino!
O discipulado da Igreja primitiva tinha como principal foco e combustível O Dia do Senhor. Me permitam abrir um parêntese aqui para explicar bem resumidamente o que é o Dia do Senhor. Para isso, vou me utilizar de um trecho da apostila do Ministério Themelios sobre o tema:
Dessa forma, torna-se evidente que, assim como o Dia do Senhor possui dupla natureza (grande e terrível), ele também possui dupla dimensão (amplo e estreito). A dimensão ampla é compreendida como tendo seu início no príncipio do que a Bíblia denomina por “grande tribulação” (Mt. 24:21), “metade da semana” (Dn 9:27) ou tempo da “angústia de Jacó” (Jr. 30:7) e se estende até o fim do período de restauração de todas as coisas, que é o reinado milenar de Jesus a partir de Jerusalém. Por outro lado, a dimensão estreita compreende o Dia da aparição do Filho do Homem sobre as nuvens (Dn 7:13) com seu exército celestial, no qual ele ressuscitará os mortos e reunirá os santos consigo nos ares (1 Ts. 4:16-17). Ele também triunfará e derrotará todos os seus inimigos, cumprindo a profecia de Isaías a respeito do Conquistador Ungido, do Rei-guerreiro que viria para libertar seu povo do cativeiro (Is. 63).
Primeiramente, existe uma tempestade de tribulação e perseguição nos esperando no final desta era (Mt 24:9). Esse período, além de muitas outras coisas, atestará a qualidade da nossa fé, do nosso amor, da nossa comunhão e fidelidade. Segundo, logo após a violência e pressão desses dias, Jesus virá estabelecer Justiça plena, os mortos em Cristo ressuscitarão, todos os salvos receberão corpos glorificados, o Messias irá reverter todos os efeitos do pecado, brilhando no céu em plena glória, marchando ruma à Jerusalém, cumprindo todas as promessas feitas a Abraão, Isaque, Jacó e Davi ao se assentar no Trono que é seu por direito e reivindicar a posse das nações para si. Terceiro, logo após isso Ele restaurará a Terra em todos os âmbitos da existência e a preparará por mil anos juntamente com todos os santos.
Ao se deparar com essa realidade, você não acha que assim como primeira Igreja, nós também não deveríamos fazer disso o alvo e combustível do discipulado?
Discipulado é ensinar a obedecer e amar a Jesus de coração em cada área da Vida. Envolve convívio, ensino, afeto, amizade, confissão, perdão, correção, pastoreio, consolo, encorajamento, adoração, pregação, arrependimento, conselho, oração, envio, e vida! Envolve vida na vida! E tudo isso ganha uma força exponencial quando feito à luz do Dia do Senhor. Paulo tinha isso em mente quando escreve aos Tessalonicenses:
E, pela palavra do Senhor, ainda lhes declaramos o seguinte: nós, os vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, de modo nenhum precederemos os que dormem. Porque o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Portanto, consolem uns aos outros com estas palavras.
1 Tessalonicenses 4:15-18
A palavra traduzida para “consolem” é Parakaleo que significa: Convocado para ajudar, encorajar, consolar ou advogar. É a mesma palavra que Jesus usa para se referir ao Espírito Santo no evangelho de João. Basicamente, Paulo está apontando para o Dia do Senhor e dizendo: “Pessoal! Olhem para o dia do Senhor e discipulem e sejam discipulados com os olhos fixos lá! Estendam o ministério do Espírito Santo uns aos outros, enquanto aguardam o Reino vindouro. A fonte de consolo de vocês durante esta era caída está no Rei que vem!”.
A mesma convocação é feita pelo autor de Hebreus:
Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima. Hebreus 10:25
Queridos amigos, congregar, comungar, discipular e pastorear é escatológico!
Até que Ele venha
Toda vez que eu adoro comunitariamente, preciso me lembrar que em breve faremos isso todos juntos sem precisar fechar os olhos, pois de olhos abertos veremos o Rei Jesus em toda sua glória. Toda vez que oro pelas nações juntamente com meus irmãos nas reuniões de oração preciso me lembrar que em breve estaremos conversando sobre elas na presença manifesta do Messias, perguntando qual é a melhor decisão governamental a ser tomada para cada uma.
Cada vez que participo dos evangelismos da minha igreja preciso me lembrar que estou pregando a mensagem do Rei que vem. Cada vez que oro por um enfermo e ele é curado, o Espírito Santo está confirmando a mensagem e anunciando que assim como aquela pessoa foi curada, quando o Rei vier, Ele extinguirá toda doença. Cada vez que eu expulsar um demônio, me lembrarei que em breve a terra estará livre deles.
de maneira que não lhes falta nenhum dom, enquanto aguardam a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo.
1 Coríntios 1:7
Quando eu orar por um morto e ele ressuscitar, o Espírito Santo está me lembrando que em breve, quando o Rei vier, ninguém que confiou sua vida a Ele permanecerá morto, mas tumbas explodirão, sepulturas racharão e delas sairão homens e mulheres com corpos glorificados que nunca mais experimentarão a morte.
num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. 1 Coríntios 15:52,53
Cada vez que eu consolar alguém que perdeu um ente querido me lembrarei da mesma coisa. Cada vez que eu encorajar um fraco na fé, que eu corrigir um discípulo, que eu me submeter mesmo achando estar certo, toda vez que eu servir de coração, que eu experimentar de comunhão verdadeira, que eu amar o meu próximo, que eu hospedar um irmão, que eu oferecer um copo d’água, eu preciso me lembrar do Rei que vem, e que Ele está me treinando para o futuro, me calibrando para o Seu Reino.
Cada vez que eu contemplar o injusto sendo recompensado e o justo sendo humilhado, cada vez que a situação do mundo ao meu redor se mostrar caótica e sem solução, que eu ficar sabendo de corrupção, tráfico, tortura, assassinato, agressão, perseguição e tantos outros efeitos desgraçados do pecado, preciso me lembrar que o Rei Judeu vem trazendo juízo e recompensa em sua mão. Juízo para os que se recusaram a reconhecê-lo e recompensa para os que o amaram de todo coração. Sua justiça será feita.
Será que Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo a vocês que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando o Filho do Homem vier, será que ainda encontrará fé sobre a terra? Lucas 18:7,8
Você conseguirá permanecer? Quando Jesus vier te encontrará de olhos fixos na sua vinda clamando por justiça? Te encontrará cuidando dos seus irmãos sabendo que prestará conta deles? Ele te encontrará cuidando da Igreja? E ele te encontrará fiel mesmo tendo atravessado a pior das tempestades?
Mas, por ser teimoso e ter um coração impenitente, você acumula contra si mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo as suas obras: a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação para os egoístas, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça. Romanos 2:5-8
Que possamos viver a eclesiologia escatológica, essa vida de Igreja à luz do Dia do Senhor, até que o Dia chegue, até que Ele venha.
Maranata.
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