Como um cristão deve encarar dilemas emocionais ? Vamos falar de ansiedade ?

Como um cristão deve encarar dilemas emocionais ? Vamos falar de ansiedade ?

ANSIEDADE

Uma breve experiência (pode haver gatilhos)

Ansiedade. Só a leitura dessa palavra em voz alta, pode ser um gatilho pra muitas pessoas. Os significados dessa palavra podem revelar uma história particular de identificação pessoal, presente em muitos cotidianos, muitas vezes, mais do que se gostaria.

A vida em sua totalidade é repleta de dilemas, de possibilidades e, o futuro pode ser um assunto de território fértil para esses dilemas. Vamos a um pequeno exercício.

Se nesse exato momento enquanto lê esse texto, você dedicar alguns segundos para pensar ativamente sobre o seu futuro, é bem provável que surjam dilemas, flashs, perguntas e possibilidades. É ainda mais provável que surjam medos. Se dedicar um pouco mais de tempo e ir ainda mais fundo nesses medos, talvez seu coração acelere um pouco, um aperto passe pelo seu estômago ou sua garganta. Se por acaso, você se encorajar a aprofundar mais um pouco, talvez tenha a sensação de dor não exatamente identificada, o tipo de dor sem um lugar muito específico e sem uma explicação muito bem desenvolvida. Aí está ela, a ansiedade, em parte da sua experiência. Em outro caso, talvez você não sinta nada, o que não te torna imune a descobrir o medo de algum dia sentir.

A ansiedade e medo:

A ansiedade é um sentimento natural e fundamental. Ela nos ajuda a prever cenários, hipóteses, situações e de alguma forma nos preparar para o que tememos. Ela é uma variação um pouco mais complexa do medo, que também é fundamental. Alguns medos podem ser vistos, onde basta tomar alguma distância do que se teme, encontrar algum lugar protegido ou até mesmo sair correndo, se for o caso e eles desaparecem. Muitos deles são evitáveis.

No entanto, existem situações mais difíceis, onde os medos assumem formas invisíveis. Invisíveis porque eles ainda não chegaram, ou porque, por alguma razão não estão exatamente aqui. A ansiedade é o sentimento ou resposta que pode aparecer nesse tipo de situações através de sensações corporais ou em uma correnteza de pensamentos.

Os pensamentos ansiosos podem ser diversos e criativamente assombrosos, carregados dos famosos “e se’s”. Tais “e se’s” podem supor inúmeros e elaborados cenários de sofrimento provável. As sensações podem ser desagradáveis, confusas e ambos combinados podem tirar o sono, afetar relacionamentos, dificultar escolhas, paralisar decisões, adiar planos, metas e sonhos. No entanto, a ansiedade não é exatamente a culpada, mas deixa essa parte para um pouco mais adiante no texto e voltemos ao assunto do futuro. (é contraditório voltar no futuro, o qual é algo que está à frente e deixar a ansiedade pra depois, a qual tende a vir antes do futuro, mas enfim, só tornando conhecida a percepção que tive logo depois que escrevi hahaha)

Seja paciente.

O futuro e seus dilemas

O futuro, ah o futuro! Este é uma boa terra para a ansiedade, é aquele tipo de ambiente invisível onde habitam nossas expectativas, nossas inseguranças, tudo que deixamos pra depois está lá, mas ao mesmo tempo, tem lá muita coisa que eu não tenho ideia. Quando olhamos pro futuro, em um mundo de possibilidades, nele também está a possibilidade de sofrer, de sentir dor. Esse tipo de visualização, como fizemos no início do texto, pode ser assustador se em algum dos caminhos dos meus próximos anos eu considerar possível me deparar com o sofrimento. Afinal de contas, não gostarmos de sofrer, na verdade não gostamos da ideia de que o sofrimento seja possível. Basta um encontro com essa sensação e desejamos apressadamente escapar dela. Se não escapar, eliminar ou mudar qualquer coisa que me gere algum tipo de garantia de que a vida será melhor.

O controle: Ameaça identificada, deve ser eliminada

Sentimos medo e atribuímos a culpa do nosso sofrimento muitas vezes à habilidade de sentir. Você se lembra que eu disse que a ansiedade não é a culpada? Realmente não! Ela pode ser uma companheira desagradável sim, um hóspede indesejado, mas o real problema está no controle. Aquele que tinha tudo para ser a solução para todos os problemas, na verdade é grande parte do problema.

O controle costuma ser a forma como lidamos com o que não vemos, ou melhor, é uma tentativa de segurança e proteção por meio do esforço e preparação constantes. A busca pelo controle pode ser desgastante desde tentativas para se livrar de receios sobre a vida financeira e profissional, relacionamentos e vida conjugal até mesmo a autoavaliação frequente sobre a própria devoção ou futuro como um cristão. Já ouvi muitas vezes no consultório: eu só gostaria de parar de sentir, se eu não sentisse isso, minha vida estaria melhor. Como se havendo uma maneira de arrancar esse sentimento, eu conseguiria evitar e me prevenir de tantos outros males. Controle!

Vejo muitos cristãos que pensam demais, principalmente como uma tentativa de encontrar o descanso das próprias avaliações de si mesmos no esforçar um pouco mais, no planejamento interminável, na corrida constante e até mesmo na resistência ao descansar na avaliação de Deus sobre sua própria vida. Sem a mente de Cristo, seremos consumidos pela nossa impotência. Sem fé, estaremos entregues ao poder de um tirano, incapaz de mudar uma coisa sequer daquelas que apenas fé pode mudar. Um tirano rigoroso, exigente, difícil de agradar, constantemente inquieto, insatisfeito, incompleto, instável: eu mesmo.

O paradoxo cristão: descanso em meio à ansiedade

Chegamos ao ponto central do nosso texto e se você chegou até aqui, quer dizer que foi muito paciente e eu já te agradeço por isso.

Um paradoxo cristão surge quando a fé exige não ver e ainda assim desfrutar de segurança e proteção. Como permanecer em mim e me livrar de mim mesmo? Como eu acrescento a mim mesmo uma habilidade que parece muitas vezes externa a mim. A verdade é que somos frágeis e vulneráveis. Nossa humanidade nos enche de fraquezas. Deus, no entanto, faz um convite relacional a esses tais tipos de homens.

Cristão ou não, inevitavelmente lidaremos com inúmeras incertezas, dúvidas e medos, nem que seja por um breve período de tempo. Como lidar com o dilema da ansiedade? Como lidar com o dilema do controle? O dilema do futuro? Eu não tenho todas essas respostas. Muitas delas são respondidas em mim mesmo em um dia e parecem ressurgir no dia seguinte, mas uma coisa eu sei: Deus nos conhece o suficiente pra conhecer o tipo de filhos que escolheu pra si.

A verdade é que todas essas perguntas são satisfeitas apenas nEle. Nem mesmo fé eu consigo produzir em mim. A única coisa que de fato eu tenho algum controle é o que eu posso fazer com a vida que eu estou vivendo nesse exato momento e espaço de tempo. Eu consigo planejar uma rotina, consigo dobrar os meus joelhos, consigo marcar uma terapia (algo que considero absolutamente importante), conversar com um amigo ou alguém que amo. Consigo começar um curso novo, me dedicar a um novo hábito talvez, consigo decidir vestir uma roupa de treino e praticar algum exercício. Consigo tentar comer melhor, aprender uma nova receita. Consigo tomar um chá antes de dormir, tomar um café ao acordar. Consigo cuidar da minha rotina de sono, dedicar tempo à minha família, congregar. O somatório desses hábitos vencerá todos os nossos dilemas? Talvez não. Talvez alguns deles precisam que Cristo volte e estabeleça seu governo eterno. Mas enquanto eu me dedico ao que eu realmente posso fazer e respirar fundo no que apenas Deus pode (só ele pode gerar descanso em mim), eu ainda posso ter um dia bem vivido, anos bem vividos e deleitosos no Senhor. Até que ele retorne e nosso deleite seja completo.

NOTA: Se você está lidando com emoções difíceis, ansiedade, depressão ou qualquer outro dilema emocional, saiba que você não está sozinho. Buscar ajuda é um passo importante. Ligue para o *Centro de Valorização da Vida (CVV)* pelo número *188, disponível 24 horas, ou acesse o site **www.cvv.org.br* para apoio emocional gratuito. Se precisar de orientação profissional, considere procurar um psicólogo próximo.

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